Gravado na Memória

POR SILÂNIA CAVALCANTE

Na exposição Territórios Afetivos, as memórias da artista são o fio condutor das gravuras e esculturas, que viram obras de arte ao longo do tempo. São experimentações que refletem pesquisa, invenção e emoção.

Territórios Afetivos é o título da exposição que organiza a produção mais atual da artista plástica cearense Silânia Cavalcante. São obras que representam suas raízes sertanejas e compõem uma geografia não convencional, que é emocional e se guia a partir dos fluxos da memória. As gravuras e esculturas capturam a percepção em dez anos de vivências e experiências da artista. Elas podem ser entendidas como uma viagem de retorno ao lugar de onde ela sai, mas não se fixa, revelando suas raízes que crescem a partir das recordações dos lugares e pessoas que se movem na memória e no tempo. Neste retorno intencional, ela fortalece os vínculos emocionais tão presentes em seus trabalhos, impregnados de sertão e de imaginação criativa. Silânia é natural de Mombaça (CE) e iniciou suas atividades artísticas com o professor Eduardo Eloy na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, onde se graduou em Artes Visuais. Também se formou em Desenho e Pintura pelo Núcleo de Pós-Graduação e Educação Continuada da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), orientada pelo professor Edu Oliveira.

Hoje é membro fundadora da Academia Cearense de Artes, tendo participado de várias exposições coletivas e com premiações no Brasil e no exterior. Suas imagens são saturadas de cores, trabalhadas a partir da técnica da escultura e das gravuras. No caso das gravuras, que formam a maior parte deste conjunto, é possível perceber a riqueza dos processos individuais, dos saberes e trocas que se acumulam em cada obra. Silânia materializa suas criações em gravuras de metal e pedra (litografia), criando representações de humildade, força e resistência – vitais na narrativa do sertanejo. Mas as técnicas sob seu domínio surgem reinventadas, ampliadas para incluir inovações. Ela reformula as imagens das litografias, nascidas nas fotografias manipuladas no computador e depois transferidas para a pedra litografada, em um caminho intrigante e imaginativo. Suas intervenções exploram as potencialidades das fotografias e do digital, estabelecendo um diálogo entre os tempos e técnicas. Mas seu olhar permanece intimista e curioso, ao manipular as imagens de espaços clássicos e comuns para ela, em busca de uma atmosfera do extraordinário, atualizando suas memórias. Só quem compreende e exercita a liberdade torna possível recriar um universo desta forma, sem medo de perder sua identidade e de experimentar.

A artista reconstrói imagens perdidas na memória, que são encontradas no processo da gravura. Ao lado, as telas Presença II, Presença V e Presença IV produzidas com a técnica da litogravura. Abaixo, a técnica mista sobre tela originou a obra Resiliência IV e a intitulada Descascando, da série Cascas.

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