De Todas as Aldeias

POR CADEH JUAÇABA

As experimentações vivenciadas no ateliê da tia-avó paterna, ainda na infância, deram origem à inquietude criativa que acompanha Cadeh até hoje, e o faz um dos maiores expoentes da arte local. Em seu mais recente projeto, o jovem propõe uma viagem no tempo para ressignificar a arquitetura da cidade.

Carlos André Juaçaba – o Cadeh – nasceu em berço esculpido e pintado à mão. Licença poética à parte, o jovem vem de uma família de artistas. Uma não, duas. De um lado, as artes plásticas; do outro, a dança. Cercado de pessoas extremamente criativas e de grande projeção na cidade de Fortaleza, não tardou para que fizesse seus primeiros movimentos. Aos nove anos, começou a circular pelo ateliê da tia-avó paterna, Heloysa Juaçaba, onde, entre tintas e pincéis, realizou suas primeiras experimentações.

No decorrer dos anos, não só ganhou intimidade com a pintura, como descobriu e desenvolveu outras habilidades – a exemplo da escultura em cerâmica e do desenho -, demonstrando sensibilidade e um talento fora do comum. Em paralelo a isso, se dedicou aos estudos em Publicidade e Propaganda, na Universidade de Fortaleza (Unifor), chegando a atuar no mercado como diretor de arte e ilustração. Após concluir o curso, a sede por conhecimento o levou à Itália, onde morou por anos, até concluir a pós-graduação em Design de Produto, na Scuola Politécnica de Milão. Lá, recheou o currículo e acrescentou novas cores e formas ao portfólio, retornando a Fortaleza com a vontade de seguir desafiando as fronteiras da arte, a partir do cruzamento de suas mais variadas linguagens.

O rosto do jangadeiro, como figura representativa do estereótipo do povo cearense, escapa à imagem, para fazer referência a um aplique de outdoor.

Foi aí que abriu, junto com a arquiteta e designer Erica Martins, o estúdio de design DEGIZ, em que, juntos, exploram diversas outras facetas criativas. Sua estreia em exposições se deu na coletiva Artequattro – Mostra inaugural de arte, na Galeria Ouvidor. Em seu mais novo trabalho, Cadeh Juaçaba recorre à tecnologia digital para resgatar uma Fortaleza escondida, na busca da ressignificação de uma arquitetura originalmente eclética. Assim como a paixão pela arte, o gosto pela arquitetura teve início ainda na infância, quando ele, o típico garoto da Aldeota, acompanhava o pai durante os passeios de carro pelo centro da cidade e ficava fascinado com aqueles prédios que mais pareciam castelos. “Tempos depois, percebi que esses enquadramentos já não eram mais possíveis, por conta de todas as camadas de publicidade e informacão tirando a grandiosidade das obras arquitetônicas.” Cadeh, então, resolveu transformar seus questionamentos em arte, partindo para um processo quase arqueológico, e em tom de provocação. O resultado foi exibido na exposição Plácido Povo – que também resgata a figura de Plácido de Carvalho -, iniciativa da Galeria Contemporarte e do escritório Artequattro. Além de ratificar o talento inquestionável de Cadeh, a exposição demonstra a maturidade artística de quem iniciou precocemente e segue em constante evolução.

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