Reflexões sobre Arte

POR ISAAC FURTADO

O conhecimento de Isaac Furtado sobre estética e harmonia vão muito além da sua atuação como cirurgião plástico e encontram expressão no seu traçado original, em telas de múltiplas inspirações conectadas a questões sobre imagem, beleza, cotidiano e tecnologia.

A constante busca pelo belo ganha diferentes contornos na vida de Isaac Furtado. Além da beleza nortear seu exercício como cirurgião plástico, o também poeta e pintor procura aliar simetria, proporção e harmonia em seus trabalhos como artista plástico. Mas se no ambiente da clínica ele tem que se limitar ao corpo, na pintura ele pode dar asas às suas aspirações estéticas e artísticas por meio de formas e cores plurais. Assim, atua em duas esferas profissionais que se complementam e o completam. A iniciação na técnica de óleo sobre tela começou quando ainda era um jovem aprendiz de Descartes Gadelha, e foi amadurecendo até obter um estilo próprio, quando contou também com a orientação informal do desenhista Valber Benevides. Hoje, Isaac Furtado desfruta do reconhecimento social de cirurgião-poeta-pintor renomado, sempre produzindo e expondo obras instigantes desde 1988. E com a série “QR Portrait”, seu mais novo trabalho, não foi diferente… Inspirada nos diferentes códigos que permeiam nosso dia a dia, mesmo quando tentamos ignorar sua existência ou fugir dos pré-estabelecidos, o artista reflete sobre como somos sempre registrados em números e dados, guiados por leis e normas que invariavelmente orientam nossa relação com o mundo. Assim, por meio de rostos familiares reconfigurados por códigos de barra ou QR codes, em interpretações coloridas com efeitos interativos, Isaac Furtado desvenda como nossa percepção sobre nós mesmos, os objetos que nos rodeiam e as pessoas com quem nos relacionamos, são, a todo momento, mediadas por códigos e novas tecnologias.


Rostos conhecidos do saber e da cultura pop são fragmentados em cores múltiplas e padrões inspirados nos QR codes e código de barras.


Ao contemplar tantas faces codificadas, a decodificação de suas telas parece despertar questionamentos intrínsecos a nossa era. Afinal, estamos diante de produtos ou de identidades? As obras também podem suscitar no fruidor perguntas sobre si mesmo: “Quais são os meus códigos? como eu apareço para o mundo? qual o meu retrato?”. Tornar-se consciente da influência inevitável de múltiplos códigos em nossas relações cotidianas talvez seja o primeiro passo para identificarmos quais deles nos representam, quais nos foram impostos e quais desejamos preservar. Fundamentado em questões relevantes ao nosso século, as telas de Isaac Furtado também mantém evidente a constante procura pela beleza a partir de uma linguagem contemporânea. É justamente nesse equilíbrio entre representação e abstração que a poética de seus trabalhos se expressa, uma tentativa de harmonizar estados externos e internos. Em última análise, Isaac Furtado expressa sua inscrição no mundo por meio da beleza reinterpretada em arte.

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